Povo Munduruku convoca
governo federal para discutir território indígena
Fonte: CIMI
Após uma semana de intensas
reuniões, indígenas da etnia Munduruku decidiram, em Assembleia com caciques e
representantes de mais de 60 aldeias, convocar o ministro da Secretaria Geral
da Presidência, Gilberto Carvalho, o ministro de Minas e Energia, o presidente
da Eletrobrás, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ministério Público
Federal (MPF) para uma reunião na próxima quinta-feira (1 de maio) na aldeia
Sai Cinza, Jacareacanga, Pará. Entre as pautas estão a demarcação de uma terra
indígena no Médio Tapajós, o fim de pesquisas e concessões de lavra no subsolo
de terras indígenas.
A decisão aconteceu após o
anúncio de uma audiência marcada para o dia 6 de maio, em Itaituba, onde deve
ser apresentada a Avaliação Ambiental Integrada (AAI) do Complexo hidrelétrico
do Tapajós. “O governo fala que a gente não quer diálogo. Então, a gente
decidiu que somos nós que temos que marcar audiência, consulta prévia, não o
governo. O governo tem que ouvir e dialogar dentro do nosso território. Não
somos nós que temos que ir atrás do governo. O governo que tem que vim e
dialogar com o povo Munduruku dentro das aldeias”, diz Kabaiwun Kaba, membro do
movimento Munduruku Ipereg Ayu.
Em carta enviada à Secretaria Geral da Presidência, os indígenas
afirmam que antes de qualquer audiência e apresentação de estudos, os Munduruku
querem a demarcação da Terra Indígena Sawré Maybu, localizada no Médio Tapajós,
próximo de Itaituba. Outra demanda é a suspensão das autorizações de pesquisa e
lavra mineral do subsolo em território indígena, emitidas pelo Departamento
Nacional de Produção Mineral para grandes mineradoras, como a Vale. A empresa
já possui licença para pesquisa mineral em grande parte do território indígena.
Segundo Kabaiwun Kaba, os Munduruku decidiram que tanto as hidrelétricas quanto
os projetos minerais previstos para o Tapajós devem ser combatidos pelos
indígenas. “Para nós tudo é sagrado. Tanto o rio, a terra, o vento, o fogo, a
floresta. Tudo é sagrado. Então, quando o governo diz que vai fazer alguma
coisa na nossa terra, dói no nosso coração porque a gente faz parte de tudo
isso”, afirma.
O complexo Tapajós é um
conjunto de sete grandes usinas hidrelétricas – São Luiz do Tapajós, Cachoeira
do Caí, Jatobá, Jamanxin, Cachoeira dos Patos, Jardim do Ouro e Chacorão.
Segundo informações publicadas no folheto de propaganda do complexo, o lago
formado terá cerca de 800 km², quase o dobro da inundação prevista para a usina
de Belo Monte.
Atraso na demarcação de terra
e pressa no licenciamento
Com eleições marcadas para
outubro deste ano, o governo federal vem tentando de todas as formas avançar
com o processo de licenciamento do complexo de hidrelétricas do Tapajós. Um
exemplo disso é que em 2012 a presidenta Dilma Rousseff reduziu os
limites de sete unidades de conservação (UCs) para viabilizar a construção de
oito grandes barragens na Amazônia, entre elas, a UHE São Luiz do Tapajós.
Se construída, UHE São Luiz do Tapajós alagará os municípios de Trairão e Itaituba, além de
comunidades indígenas ainda não demarcadas. No final de 2013, a presidenta
da Funai, Maria Augusta Assirati, se comprometeu com os indígenas em publicar
até março deste ano o Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação
da TI Sawré Maybu, porém, o relatório, já aprovado pela Diretoria de Proteção
Territorial (DPT) até agora não foi divulgado no diário oficial da União.
Leia abaixo ou clique aqui para ler a carta na íntegra
Ao governo brasileiro e à
sociedade brasileira
Nossos caciques, pajés, lideranças, guerreiros, mulheres e crianças do povo
Munduruku, reunidos na terceira assembleia do Movimento Munduruku Ipereng Ayu,
declaramos para o poder judiciário e a sociedade brasileira que temos total
disposição para dialogar um processo democrático de consulta prévia, livre,
informada e de boa fé, conforme a convenção 169 da OIT.
Para continuar esse diálogo, que não é negociação dos nossos direitos,
convidamos o ministro Gilberto Carvalho, Ministro das Minas e Energia, Presidente
da Eletrobrás, Funai, Ministério Público Federal e observadores da sociedade
civil, para um encontro na aldeia Sai Cinza, município de Jacareacanga, PA, a
ser realizado no dia 1 de maio de 2014.
Queremos que o governo prove sua boa fé, publicando o Relatório Circunstanciado
de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Sawré Maybu do Médio Tapajós,
e o cancelamento de todas as licenças de pesquisa e lavra no subsolo da Terra
Indígena Munduruku emitidas pelo Departamento
Nacional de Produção Mineral para grandes empresas mineradoras.
Assembleia Munduruku, aldeia
Missão Cururu, 25 de abril de 2014
Respeitosamente,
Respeitosamente,
Josias Manhuary Munduruku – Líder dos guerreiros
Maria Leusa Cosme Kaba Munduruku – Representante das mulheres
Vicente Saul Munduruku – Cacique aldeia Sai Cinza
Arlindo Kaba Munduruku – Cacique aldeia Missão